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Opinião | AS CIDADES ESPONJAS E A ENGENHARIA PÚBLICA


 Por Lincoln José Ribeiro – Engenheiro de operações/ MCTI. Este artigo não necessariamente tem a opinião do SINAEG

O termo “cidades esponjas” refere-se a uma abordagem na engenharia pública e no planejamento urbano que busca projetar áreas urbanas de forma a lidar de maneira mais eficaz com problemas relacionados à água, como enchentes, inundações e gerenciamento de águas pluviais.


      Em vez de simplesmente canalizar a água da chuva para longe da cidade, as cidades esponjas procuram absorver e reter a água, permitindo sua infiltração no solo, recarga de aquíferos e evaporação natural.


       Essa abordagem geralmente envolve a implementação de uma variedade de técnicas e infraestruturas, incluindo áreas verdes permeáveis, telhados verdes, pavimentos permeáveis, bacias de retenção, áreas úmidas restauradas e sistemas de drenagem sustentável. Ao adotar essas práticas, as cidades podem reduzir o impacto das enchentes, melhorar a qualidade da água, criar habitats naturais e até mesmo mitigar os efeitos das mudanças climáticas.


       Na engenharia pública, o conceito de cidades esponjas tem implicações significativas, pois exige uma abordagem integrada e colaborativa para o planejamento urbano, envolvendo diferentes partes interessadas, incluindo governos locais, desenvolvedores, comunidades e especialistas em recursos hídricos. Ao considerar a gestão sustentável da água desde o estágio inicial de planejamento, as cidades podem criar ambientes mais resilientes e sustentáveis para seus habitantes.


       O conceito das cidades esponjas é a utilização de técnicas de engenharia e arquitetura que procura absorver, filtrar e usar a água da chuva de forma eficiente. Embora ainda seja uma ideia relativamente nova, várias cidades ao redor do mundo têm implementado elementos de design de cidade esponja em seus planos de desenvolvimento urbano. Algumas das cidades que têm adotado esse conceito com significativas mudanças observadas incluem:
       Cingapura: Cingapura é frequentemente citada como uma líder em soluções de cidade esponja. A cidade implementou uma série de medidas, incluindo o uso de reservatórios de água, telhados verdes e pavimentos permeáveis. Isso ajudou a reduzir significativamente os problemas de enchentes e melhorar a qualidade da água.
       Roterdã, Holanda: Roterdã é outra cidade que tem adotado o conceito de cidade esponja, especialmente após as enchentes de 1953. Medidas como telhados verdes, parques urbanos que funcionam como reservatórios de água e o uso de canais e lagos para reter o excesso de água têm ajudado a minimizar os impactos das enchentes.
       Portland, Oregon, EUA: Portland é conhecida por suas políticas ambientais progressistas e tem implementado várias iniciativas de cidade esponja, incluindo pavimentos permeáveis, zonas de infiltração de água e projetos de gestão de água de chuva em espaços públicos.

       Melbourne, Austrália: Melbourne tem investido em projetos de infraestrutura verde, como parques de bacias de água, para gerenciar as águas pluviais de forma mais sustentável. Isso tem ajudado a reduzir a escorrência de água da chuva e melhorar a qualidade da água.


       Essas são apenas algumas das cidades que têm adotado o conceito de cidade esponja. As mudanças observadas incluem uma redução nas enchentes, uma melhoria na qualidade da água e uma maior resiliência às mudanças climáticas. Essas cidades estão mostrando que é possível criar ambientes urbanos mais sustentáveis e resilientes através da adoção de princípios de design de cidade esponja.


        Uma das maiores especialistas do mundo e professora de Projetos Urbanos da Universidade Técnica de Delft, é a brasileira, nascida no Rio Grande do Sul Taneha Bacchin, explica que o modelo pode ser aplicado no mundo inteiro e diretamente no evento do Rio Grande do Sul.


        A técnica das “cidades esponjas” oferece várias vantagens na reconstrução do Rio Grande do Sul após as recentes tragédias de inundação. Esse conceito, originado na China, visa transformar áreas urbanas em espaços que absorvem, armazenam e utilizam a água da chuva de maneira eficiente, reduzindo os impactos das enchentes e melhorando a resiliência das cidades a eventos climáticos extremos. Aqui estão algumas das principais vantagens:


1. Redução de Inundações
        As cidades esponjas são projetadas para aumentar a capacidade de absorção de água das áreas urbanas através de infraestrutura verde, como parques, jardins, telhados verdes e pavimentos permeáveis. Isso ajuda a reduzir o volume e a velocidade do escoamento superficial, diminuindo a frequência e a severidade das inundações.
2. Melhoria da Qualidade da Água
        Essas técnicas permitem a filtração natural da água da chuva, reduzindo a poluição antes que a água chegue aos corpos hídricos. Elementos como zonas úmidas construídas e biovaletas ajudam a remover contaminantes, melhorando a qualidade da água e beneficiando os ecossistemas locais.
3. Aumento da Resiliência Urbana
        A infraestrutura das cidades esponjas melhora a capacidade de adaptação e resposta a eventos climáticos extremos, como tempestades e enchentes. Isso é particularmente importante para o Rio Grande do Sul, que enfrenta desafios climáticos frequentes. A resiliência urbana é aumentada, protegendo tanto a infraestrutura quanto os residentes.
4. Benefícios Ecológicos
        A integração de áreas verdes urbanas promove a biodiversidade, cria habitats para a vida selvagem e melhora o microclima local. Parques e jardins urbanos contribuem para a redução das ilhas de calor, além de proporcionar espaços recreativos e de lazer para a população.
5. Economia de Recursos
        Ao incorporar sistemas de coleta e reutilização da água da chuva, como cisternas e reservatórios subterrâneos, as cidades esponjas ajudam a conservar recursos hídricos. Isso é especialmente útil em períodos de seca, garantindo uma fonte adicional de água para usos não potáveis.
6. Melhoria da Saúde Pública
        A redução das inundações e da poluição hídrica contribui para a melhoria da saúde pública, diminuindo a incidência de doenças transmitidas pela água. Áreas verdes e espaços de lazer também promovem a atividade física e o bem-estar mental dos moradores.
7. Valorização Imobiliária
        A infraestrutura verde e a melhoria da qualidade de vida nas cidades esponjas podem levar à valorização dos imóveis. Áreas mais seguras, agradáveis e esteticamente atraentes tendem a atrair investimentos e moradores, estimulando o desenvolvimento econômico local.
8. Integração Comunitária
        Projetos de cidades esponjas frequentemente envolvem a participação comunitária, educando os moradores sobre a importância da gestão sustentável da água e criando um senso de responsabilidade compartilhada. Isso fortalece a coesão social e o engajamento cívico.


        Implementar a técnica das cidades esponjas na reconstrução do Rio Grande do Sul pode transformar os desafios das inundações em oportunidades para criar cidades mais sustentáveis, resilientes e habitáveis. Além de mitigar os efeitos das enchentes, essa abordagem oferece uma série de benefícios econômicos, ecológicos e sociais que podem contribuir para um desenvolvimento urbano mais equilibrado e sustentável.


        Neste contexto, A engenharia pública pode ser decisiva na reconstrução do Rio Grande do Sul em diversos pontos críticos, especialmente após as recentes tragédias de inundação. Sua atuação é fundamental para garantir a segurança, a funcionalidade e a resiliência das infraestruturas e comunidades afetadas. Aqui estão algumas áreas chave onde a engenharia pública pode fazer a diferença:


1. Planejamento Urbano e Zonal
        • Redefinição de áreas de risco: Identificar e reclassificar áreas sujeitas a inundações frequentes para limitar o desenvolvimento nessas regiões e, se necessário, realocar populações vulneráveis.
        • Zoneamento inteligente: Implementar políticas de zoneamento que incentivem a criação de áreas verdes e de retenção de água.
2. Infraestrutura de Controle de Cheias
        • Construção e manutenção de diques e barragens: Projetar, construir e manter estruturas que controlem o fluxo dos rios e previnam transbordamentos.
        • Sistemas de drenagem urbana: Melhorar ou construir redes de drenagem eficientes, incluindo canais, bueiros e galerias pluviais para escoar a água da chuva rapidamente.
3. Implementação de Soluções Baseadas na Natureza
        • Cidades esponjas: Incorporar tecnologias como telhados verdes, pavimentos permeáveis e parques que absorvem a água da chuva, conforme mencionado anteriormente.
        • Restaurar ecossistemas naturais: Reabilitar pântanos, zonas úmidas e cursos d’água naturais que atuam como amortecedores naturais de enchentes.
4. Infraestrutura de Resiliência
        • Redes de transporte: Reconstruir e reforçar estradas, pontes e ferrovias para resistirem melhor a eventos climáticos extremos.
        • Edifícios públicos: Projetar e construir escolas, hospitais e outros edifícios públicos que possam servir como abrigos seguros durante emergências.
5. Gestão de Recursos Hídricos
        • Reservatórios e cisternas: Desenvolver sistemas para armazenamento de água da chuva que possam ser utilizados em períodos de seca ou para reduzir a pressão sobre os sistemas de drenagem durante chuvas intensas.
        • Uso eficiente da água: Promover o uso sustentável dos recursos hídricos através de programas de conservação e tecnologias de reutilização da água.
6. Tecnologia e Inovação
        • Monitoramento e alerta precoce: Implementar sistemas de monitoramento contínuo dos níveis de água e meteorologia, com tecnologia de sensores e inteligência artificial para prever e alertar sobre possíveis inundações.
        • Mapeamento e modelagem: Utilizar tecnologias avançadas de mapeamento e modelagem para prever impactos de inundações e planejar ações mitigadoras.
7. Engajamento Comunitário e Educação
        • Programas educacionais: Desenvolver programas para educar a população sobre práticas de prevenção de enchentes e respostas a desastres.
        • Participação pública: Envolver as comunidades locais no planejamento e execução de projetos de infraestrutura, garantindo que as soluções atendam às necessidades reais e contem com o apoio da população.
8. Colaboração Interdisciplinar
        • Parcerias com outras disciplinas: Trabalhar em conjunto com urbanistas, ambientalistas, arquitetos, Economistas e outros profissionais para desenvolver soluções holísticas e sustentáveis.
        • Coordenação entre níveis de governo: Facilitar a colaboração entre governos municipais, estaduais e federais para garantir recursos e apoio necessários para grandes projetos de infraestrutura.
9. Revisão e Atualização de Normas e Regulamentações
        • Normas de construção: Atualizar códigos de construção para garantir que novas edificações e renovações sejam feitas de acordo com padrões que considerem os riscos de inundações.
        • Regulamentações ambientais: Implementar políticas que promovam práticas de desenvolvimento sustentável e proteção ambiental.


        A engenharia pública, portanto, desempenha um papel crucial na mitigação dos riscos de inundações, na melhoria da infraestrutura e na promoção de comunidades resilientes e sustentáveis. Com um planejamento adequado e uma abordagem integrada, é possível reconstruir o Rio Grande do Sul de maneira que seja mais preparado para enfrentar futuros eventos climáticos extremos.


        Em resumo, a presença transversal de engenheiros públicos nos diversos órgãos do governo federal, pode acelerar a recuperação, melhorar a qualidade das intervenções, garantir a eficiência no uso dos recursos e promover a sustentabilidade e a resiliência a longo prazo. Isso resulta em uma reconstrução mais robusta e eficaz, beneficiando toda a população do estado.


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